domingo, 21 de fevereiro de 2016

5/11 – Roncesvalles a Zubiri

Neste dia, enquanto me arrumava, Kim e Lee me deram doces como forma de agradecimento pela batata do dia anterior. Disse que não precisava, mas eles insistiram. Achei muito fofo. Pelo visto as batatas os tiraram de um pequeno sufoco. Generosidades do Caminho...
Tomei café na Casa Sabina (também adquirido no dia anterior através do albergue) e acabei demorando um pouco lá, conversando com outros peregrinos. Torradas gigantes com manteiga e geléia, suco e chocolate quente. O dia estava lindo novamente e o início da caminhada é em uma área de bosques, paralela à rodovia. Muito bonito! Certamente quem inicia em Roncesvalles, também inicia encantado com a beleza.

Roncesvalles

Roncesvalles

Bora que falta pouco!

Início do caminho em Roncesvalles.

Já sentia dores no corpo recorrentes do dia anterior. A verdade é que você sente dores musculares por aproximadamente 1 semana, depois se acostuma e não sente mais. Caminhar o dia todo por dias seguidos é algo que nosso corpo não está habituado a fazer, então ele reage.
Passei pelo Bosque de Sorginaritzaga, onde no século XVI a Inquisição queimou 9 pessoas acusadas de bruxaria. Enfim, né? Ninguém podia ser feliz em paz... É um exemplo de atitude no passado da Igreja Católica que não têm absolutamente NADA a ver com o que pregou Jesus Cristo, uma pessoa que andava entre os pobres, abraçava os doentes, demonstrava amor e acolhimento a todos, independente de suas crenças e atitudes. É bom pra gente refletir se hoje em dia nós (nossa sociedade) não fazemos coisas parecidas... Preciso dizer que apesar da parte (ou quase todo?) “trevas” da Idade Média, eu sou muito interessada por esse período. Na infância curti muito estudar esse momento da história e na faculdade fiquei simplesmente apaixonada pela arquitetura gótica. Portanto, fazer o Caminho também foi especial pra mim por esse motivo.
A primeira cidade avistada é Burguete, uma gracinha. Casas lindas e calçadas estreitas. Colírio pros olhos! Uma senhora me perguntou se eu estava indo à Santiago, eu disse que sim. Ela falou: o caminho ficou lá pra trás! Eu estava tão encantada, que passei direto do trecho em que deveria virar. O mais interessante de todo o meu Caminho, é que sempre que eu ia errar a direção, tinha alguém pra me avisar, e olha que nem sempre eu estava acompanhada ou com alguém à vista. Apenas no dia que antecedeu minha chegada à Santiago eu passei direto da entrada da cidade em que ia ficar e andei 3 km a mais, portanto voltei também os 3 km. Também houveram momentos em que eu avisei alguns peregrinos: “Eeeei! Você está errado! O caminho é por aqui!” Jappie relatou que em um dia andou 10 km na direção errada, e quando se deu conta disso, pegou uma carona pra voltar. Acontece... Perder-se às vezes é bom. E estar atento ao seu Caminho (ou à sua vida) é importante.

Burguete



Igreja em Burguete - tocou o sino quando cheguei! :-)


Carinho no filhote



Bram

Charlotte e Jappie

Passei também pelas cidades Espinal, Biscarreta e Lintzoain. Em uma delas comprei um bocadillo de omelete de batatas e presunto. Enorme, durou uns 3 dias, hehe. Pelo caminho encontrei peregrinos já conhecidos e conheci outros. Encontrá-los foi bom pra dar força, visto que as pernas e pés doíam muito. Em um momento de descanso da trilha, alguns deles aproveitaram pra fumar. Eles pegavam o fumo, colocavam dentro da seda e enrolavam, junto com um cilindro branco. Baseada no que vemos aqui no Brasil, inicialmente achei que era maconha, mas o cheiro dizia que não. Fiquei sem saber o que era, mas muitos dias depois um argentino me esclareceu. É tabaco mesmo. O cilindro é o filtro, e a opção da grande maioria da Europa por fumar cigarros desta forma deve-se a 2 motivos: preço e menos química. Até os mais afortunados preferem montar seu cigarrinho do que comprar os prontos.

Espinal - Fiquei encantada como eles enfeitam as fachadas com flores!

Igreja em Espinal

Interior da igreja em Espinal

Não é um amor?


Lindeza!

Haja lenha!

Capa deste blog! :-)

Sinalização do Caminho

Ahh, o outono...

Momento descanso

Ahh, o outono... (2)


Atenção, peregrino: desvio à direita!


Parar para descansar e abastecer!

Sinalização do Caminho

Biscarreta
Bocadillo!
Holanda, Bélgica, Suíça, Canadá, Coréia e Brasil na mesma foto! Isso é lindo!
Ao longo do Caminho passamos por muitos cemitérios, todos muito bem cuidados. É uma oportunidade pra entrar neles sem estar de luto e pra refletir sobre a vida e a morte.




Cemitério

Cemitério




Momento romântica

Momento acabada




Não importa a velocidade, o importante é fazer seu Caminho.



A intenção de quase todos os peregrinos era ir para Larrasoaña, mas não tinha albergue aberto por lá (em virtude da temporada de inverno), então ficamos em Zubiri. A cidade é uma graça, muito bem pavimentada! Fiquei num albergue privado – Zaldiko - e gostei, a hospitaleira é bem simpática, paguei a hospedagem no cartão (raridade) e o albergue possuía alguns livros. Aproveitei e comprei algumas guloseimas em um mercadinho próximo.

Chegando em Zubiri

Zubiri

Zubiri

Finalmente conheci peregrinos espanhóis (não estamos na Espanha?). Um deles era um senhor galego (nascido na Galícia, uma das regiões da Espanha), e me perguntou: “você não é espanhola, né? Notei pelo seu sotaque...” Falei que era brasileira, e que não sabia falar espanhol. O que eu fazia era dar uma enrolada, o tão famoso portunhol. Eu já tinha ouvido falar que o galego (língua) é muito parecido com o português, até porque a Galícia é próxima de Portugal. Porém fiquei surpreendida, pois achei que ele estava tentando falar comigo em português, mas ele disse: estou falando em galego com você! E me avisou: quando você estiver no final do Caminho, na Galícia, pode falar em português que todos vão te entender! Para quem não sabe, o início do Caminho é na Navarra.

A noite no albergue foi de vinho, conversa, comida e violão. Em um certo momento, a hospitaleira encerrou seu expediente e foi embora, e aí notei o nível de segurança bem diferente do que estamos acostumados.

6 comentários:

  1. kkkkkkkkkk amei a foto toda fanfarrona!!
    Mas confesso que a cada minuto me delicio com as reflexões implícitas em cada passo, em cada encontro, em cada chegada e em cada despedida. O caminho parece ser de fato o reflexo da nossa vida!!

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  2. Lindas fotos. Vc usou câmera ou celular mesmo?qual o modelo?

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    1. Obrigada, Fabiano! Usei uma câmera digital pequena antiga: Sony Cybershot dsc-w570. Bjos!

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  3. Estou adorando!!!!
    Lindas as fotos!!!
    Bjs

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