sexta-feira, 25 de março de 2016

14/11 – Belorado a Agés

            Na noite do dia 13/11 pro dia 14/11 senti bastante frio. Foi um momento que eu pensei: chega, quero minha mãe! Questionei-me: o que estou fazendo aqui? Mas aí você pensa: não, é claro que eu quero continuar! Foi o único momento do Caminho que eu pensei “já deu”, mas segundos depois já mudei de idéia, lembrando dos motivos de estar ali.
            Assim que acordei, vi as mensagens do meu namorado me falando dos tristes atentados em Paris, da noite anterior. Alguns peregrinos já sabiam, outros não. Ficamos perplexos, preocupados, principalmente com os peregrinos franceses, por conta de suas famílias. Meu namorado chegou a questionar se era seguro seguir caminhando. Eu falei: cada vez que eu caminho, eu me afasto mais da França. E aqui é no meio no nada, pueblos mais vazios em sua maioria, então não são lugares interessantes para terroristas. É verdade que em 2 dias chegaríamos em uma cidade grande, mas me senti segura para seguir.
O espanhol Bernard se despediu de nós. Não caminharia mais. As férias dele estavam acabando, ele pretendia chegar até Burgos (mais 2 dias), mas não daria tempo, então pegaria um ônibus até lá e encerraria seu caminho, para depois passar 1 semana com a namorada. Ele já havia feito em outro ano o caminho de Burgos até Santiago de Compostela. Luxo que os espanhóis podem se dar. A despedida dá um certo vazio, a gente percebe que realmente não verá mais aquela pessoa. É diferente de não ver mais porque vocês seguiram em velocidades diferentes no caminho, visto que sempre há a possibilidade de rever.
            O trecho normal deste dia pra quem começa em Belorado, seria parar em San Juan de Ortega. É considerado um trecho difícil, com subidas. Mas já sabíamos que não havia albergue aberto por lá, então teríamos que seguir mais 4 km e ficar em Agés. Então já comecei o dia pedindo pensamentos positivos pra minha família, pra eu alcançar este objetivo. Tomei café no albergue, com as minhas coisas, e parti.

Parquinho





            Neste dia comecei a perceber como a presença ou ausência do sol influenciava no meu humor. O sol voltou, e meu humor melhorou demais. O tempo bom me dá mais forças pra seguir. Claro que não estamos falando do sol escaldante do verão do Rio de Janeiro. Este não dá forças nenhuma, só dá moleza. Estamos falando daquele solzinho gostoso que diminui a sensação de frio.

Céu de brigadeiro de voltaaa!





Passamos por Tosantos, Villambistia, Espinosa Del Camino, Villafranca Montes de Oca e San Juan de Ortega. Foi um dia com paisagens belíssimas: cadeia montanhosa, bosque e uma pista larga. Na noite anterior, Bernard havia perguntado que estilos musicais os coreanos gostavam. Lee respondeu: eu gosto de hip hop! E rapidamente colocou algumas músicas, inclusive em coreano. Achei aquilo o máximo, e comecei a fazer aquela dancinha com a mão à frente, e Lee me acompanhou. Ri muito. No dia seguinte (o dia que estou relatando agora), Lee tirou uma foto encenando a dancinha, conforme minha sugestão. Hehehe!












Que amor...


Peregrinos lanchando...









Descansar é bom, né?

Vistão...






Jappie e Manu.

Kim, Lee e Bram.

Lee só no Hip Hop, hehehe!


Pistão!

Escultura de peregrino




San Juan de Ortega






Zaninha Peregrina



Cheguei bem em Agés, mas com os pés doendo, como sempre. Tinha um albergue privado aberto logo no começo da cidade, o San Rafael. Como estava cansada, resolvi ficar por lá, ao invés de procurar o municipal. A hospitaleira é uma senhora que demonstra um ar um tanto superior, meio que querendo se impor, mas muito gente boa, meio “mamma”. Faz um desenho de coração com olhos e boca na sua credencial. Quando ela falou o preço (10 euros), eu devo ter feito uma cara de assustada, ao que ela completou: mas temos roupa de cama limpa e trocada todos os dias! Os coreanos já estavam lá (Kim, Lee e Jung), e dividi o quarto com eles. Os quartos era pra 4 e com banheiro privativo, muito bom! Lee me ofereceu pra ficar na cama de baixo, e eu aceitei, por conta do cansaço. Kim brincou: “gentleman, gentleman...” Hahaha! O restante do pessoal havia seguido pro albergue municipal.
Na janta, tomei uma sopa de alho deliciosa. O hospitaleiro que serviu nosso jantar era muito engraçado, ficava brincando. Ele nos proibiu de olhar no celular enquanto jantávamos. Conhecemos o Maximiliano, um argentino que até então não havíamos encontrado. Ele relatou o dia que começou em Saint Jean, era alguns dias depois de nós, então perguntei quantos km ele andava por dia, e ele respondeu: 40! Eu disse: Meu Deus! Aí ele bateu na perna dele, como quem diz: são fortes! Hahaha! Contou que mora em Maiorca, onde tem um bar na praia. Maiorca é uma ilha espanhola muito turística, dizem que os ingleses e alemães curtem muito o verão por lá.

Sopa de Alho

Jantar

Nos separamos neste dia, snif!

Maximiliano fez uma observação muito interessante e pertinente, visto que já havia feito amizade com outros coreanos. Comentou que diferente dos espanhóis, que no geral sentem a necessidade de reforçar sua masculinidade, meio “el toro”, meio macho alfa; os coreanos no geral são super amáveis, educados e sensíveis. Eu respondi: tenho que concordar contigo!

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